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Seja bem-vindo ao primeiro Pesquisa de Emergência. Nesta seção iremos traduzir os posts da série Research and Reviews in the Fast Lane do blog Australiano Life in the Fast Lane.

Esta série será estruturada como um recurso semanal gratuito que permite saber quais publicações recentes valem a leitura de acordo com a opinião de renomados Emergencistas e Intensivistas de diversas partes do globo. Contribuidores selecionam artigos que foram descobertos (ou recuperados) na última semana e que eles pensam que você deveria ler. Uma publicação é recomendada quando o estudo pode mudar a prática clínica, responde à uma pergunta clínica importante, explica algum assunto complicado ou simplesmente porque é uma grande leitura.

A primeira edição conta com um apanhado das 12 melhores publicações de 2015.

Reanimação e Intensivismo

RR-ICON-LandmarkMouncey PR et al. Trial of Early, Goal-Directed Resuscitation for Septic Shock (The ProMISe Trial) NEJM 2015; 372(14): 1301-11. PMID: 25776532

 

ProMISe Trial é o terceiro do trio de estudos comparando a prática atual de reanimação de pacientes com choque séptico à Early-Goal Directed Therapy. Como o ARISE e o ProCESS, o ProMISe não demonstrou diferença entre a prática usual e o uso de EGDT para o desfecho primário de mortalidade. No entanto, pacientes do grupo EGDT tiveram maior risco de receber um acesso venoso central (92.1% vs. 50.9%), acesso venoso central com capacidade de monitorização da SvO2 central (87.3% vs. 0.3%) e inotrópicos (18.1% vs. 3.8%). Mais uma vez, a mensagem final é que a EGDT mudou a nossa prática usual em relação ao que fazíamos há 20 anos. Manejo agressivo não necessita de monitorização central da SvO2, pressão venosa central ou gatilhos para intervenções. Antibióticos precocemente, volume, controle da fonte de infecção e reavaliação frequente desencadeando os próximos passos do manejo são os fatores que devemos focar.

Recomendado por: Anand Swaminathan

Leia mais em: The ProMISe Study: EGDT RIP? (St. Emlyn’s); Trial of Early, Goal-Directed Resuscitation for Septic Shock (The Bottom Line); The Protocolised Management in Sepsis (ProMISe) Trial (REBEL EM); Keep your ProMISe (MD Aware).


 

RR-ICON-Game-Changer Loubani OM, Green RS. A Systematic Review of Extravasation and Local Tissue Injury from Administration of Vasopressors through Peripheral Intravenous Catheters and Central Venous Catheters. J Crit Care 2015; 30(3): 653.e9-17. PMID 25669592

Somos ensinados a administrar vasopressores por acessos centrais e isso pode atrasar o início do manejo. Os autores revisaram a literatura para achar complicações locais e extravasamento de vasopressores. Foram encontrados relatos de caso (n = 305 de 270 pacientes). Eles reportam que lesão tecidual local atribuível a vasopressores tende a acontecer durante longos períodos de infusão em acessos venosos periféricos distais (duração média de infusão antes do extravasamento foi de 35.2h). Caso um paciente precise de um vasopressor, ele pode ser iniciado perifericamente enquanto você obtém o acesso venoso central.

Recomendado por: Lauren Westafer


 

RR-ICON-Game-Changer Leeuwenburg T. Airway management of the critically ill patient: modifications of traditional rapid sequence induction and intubation. Crit Care Horizons 2015; 1: 1-10. Free Open Access Link

Esse foi o primeiro artigo publicado na incrível revista de Intensivismo com acesso gratuito lançada por Rob MacSweeney. Variações na técnica de sequência de intubação rápida existem entre indivíduos, especialidades, instituições e países. Esse artigo da terra dos Cangurus explora essas variações de forma sensacional e aponta medidas especificas no cuidado do paciente crítico. Não são feitas recomendações específicas, mas este paper pode servir como base para o desenvolvimento de um padrão operacional do procedimento num nível institucional.

Recomendado por: Soren Rudolph


 

RR-ICON-Eureka RR-ICON-mona-lisa Hilton AK, Bellomo R. A critique of fluid bolus resuscitation in severe sepsis. Crit Care 2012; 16(1): 302. PMID: 22277834

 

O conceito de reanimação com infusões rápidas de volume no paciente crítico, especialmente em choque séptico, é quase sagrado. Hilton e Bellomo dissecam a máscara que sustenta esse dogma. Leia isso e você ficará sem saber no que acreditar… Chegou a hora para um FEAST trial em adultos no mundo desenvolvido? Enquanto isso, continue a seguir um caminho moderado em choque séptico – uso de volume com bom-senso (no máximo 2-3 L na maioria dos pacientes) e uso precoce de noradrenalina.

Recomendado por: Chris Nickson


 

RR-ICON-Game-Changer Bouhemad B et al Ultrasound for ʺlung monitoringʺ of ventilated patients. Anesthesiology 2015; 122(2):437-47. PMID 25501898

 

O uso de ultrasom pulmonar está expandindo cada vez mais. Hoje, sabemos vários padrões específicos de imagens correspondentes a patologias pulmonares e para alguns temos tratamentos específicos. No entanto, o problema com ultrassom pulmonar tem sido como comunicar os achados entre os médicos e acompanhar suas evoluções. Esse artigo oferece um escore para monitorizar o grau de aeração pulmonar durante o tempo e em resposta a tratamentos específicos (por exemplo, PEEP e posicionamento em pacientes em ventilação mecânica).

Recomendado por: Soren Rudolph


 

Medicina de Emergência

RR-ICON-Landmark Weinstock MB, et al. Risk for Clinically Relevant Adverse Cardiac Events in Patients With Chest Pain at Hospital Admission. JAMA Intern Med 2015; 175(7): 1207-12. PMID: 25985100

Uma contribuição de importância incrível para a literatura que analisa os desfechos de pacientes que continuam no hospital (internados ou em observação) depois de uma avaliação cardíaca negativa para dor torácica. Excluindo pacientes com sinais vitais anormais, sinais de isquemia no ECG, bloqueio de ramo esquerdo ou ritmo de marca-passo, os autores viram que 1 em 1817 pacientes teve um evento clínico adverso de causa cardíaca (definido como infarto agudo do miocárdio com supra de ST em paciente internado, arritmia com perigo à vida, parada cardíaca ou respiratória, ou morte). Esse artigo é mais uma peça de evidência demonstrando uma chamada clara para modificar a prática usual em muitas instituições dos EUA. Parem a loucura!

Dor torácica é difícil – é a segunda queixa principal mais comum na emergência, e deixa tanto os pacientes como nós assustados – parcialmente porque infartos não diagnosticados são uma das principais causas de processos. Porém, nós também vemos uma tonelada de recursos desperdiçados em casos com probabilidades mínimas de infarto. Esse novo estudo no JAMA-IM, incluindo Mike Weistock, Scott Weingart e David Newman, analisou os desfechos de pacientes com ECGs normais e duas séries negativas de troponinas admitidos por dor torácica e viu apenas 20 desfechos ruins em 11,000 pacientes (4 em 7,000 com as exclusões apropriadas, como sinais vitais anormais). Talvez seja a hora de mudar o nosso approach para dor torácica?

Recomendado por: Jeremy Fried e Seth Truger


 

RR-ICON-Game-Changer Friedman, B.D, et al. Naproxen With Cyclobenzaprine, Oxycodone/Acetaminophen, or Placebo for Treating Acute Low Back Pain A Randomized Clinical Trial. JAMA 2015; 314(15): 1572-80. PMID 26501533

Um ótimo estudo que analisa como podemos fazer o melhor manejo dos pacientes que procuram atendimento com dor lombar. Os autores incluíram pacientes com dor lombar aguda, não-traumática e sem sintomas radiculares; e, examinaram o efeito de naproxeno + placebo vs. naproxeno + ciclobenzaprina vs. naproxeno + oxicodona/paracetamol. Em 7 dias e em 3 meses, não houve diferença significativa quanto a deficiências ou controle da dor entre o uso de placebo e outras medicações. Se você está prescrevendo relaxantes musculares ou opioides em conjunto com AINEs para os seus pacientes, esse estudo mostra a futilidade desse tipo de manejo para a maioria dos casos.

Recomendado por: Jeremy Fried


 

RR-ICON-Boffintastic Stub D et al. Air Versus Oxygen in ST-Segment-Elevation Myocardial Infarction. Circulation. 2015; 131(24):2143-50. PMID 26002889

 

O trial australiano AVOID responde se administração rotineira de oxigênio à pacientes com infarto com supra de ST é associada com aumento na área de infarto usando como medida enzimas cardíacas e RNM em 6 meses. Todos os 441 pacientes com infarto com supra foram randomizados no pré-hospitalar para oxigênio (8 L/min) por máscara facial ou ar ambiente. O pico médio de troponina I foi similar entre os dois grupos, mas houve um aumento significante de 20% na CK dos pacientes do grupo que recebeu oxigênio. Embora nem todos os pacientes tenham passado por RNM aos 6 meses, Houve um aumento significante na área de infarto vista na RNM cardíaca no grupo que recebeu oxigênio (n = 139; 20.3 vs. 13.1 g; p = 0.04). Além disso, houve um maior número de recorrências de IAM no grupo do oxigênio em comparação com o grupo do ar ambiente (5.5% vs. 0.9%; p = 0.006) e um aumento na frequência de arritmias cardíacas (40.4% vs. 31.4%; p = 0.05). Isso corrobora com o fato de que oxigênio deve ser tratado como uma droga e utilizado apenas quando indicado. A percepção de que o oxigênio não causa danos e não há um limite máximo para o seu uso está ficando ultrapassada.

Recomendado por: Soren Rudolph

Leia mais em: July 2015 REBEL Cast (REBEL EM)


 

RR-ICON-Hot-Stuff Hutchinson BD et al. Overdiagnosis of Pulmonary Embolism by Pulmonary CT Angiography. Am J Roentgenol. 2015; 205(2): 271-7. PMID: 6204274

 

Tromboembolismo pulmonar é um dos tópicos favoritos entre emergencistas e esforços recentes têm sido focados em práticas baseadas em evidências para prevenir exames desnecessários. Esse estudo retrospectivo, unicêntrico, feito na Irlanda, tinha 3 radiologistas torácicos, cegos aos dados clínicos e interpretações prévias. Eles olharam 174 angiotomografias de tórax positivas para TEP. Esses radiologistas chegaram à conclusão de que 45 desses exames positivos (25.9%) eram negativos, com uma excelente concordância entre examinadores (k = 0.83). Exames falso-positivos foram mais frequentemente TEP solitários. Nosso “padrão-ouro” não é perfeito e exames desnecessários com uma ferramenta imperfeita é uma boa receita para efeitos indesejados.

Recomendado por: Lauren Westafer


 

Educação Médica

RR-ICON-Boffintastic Roland D, Brazil V. Top 10 ways to reconcile social media and ‘traditional’ education in emergency care. Emerg Med J 2015; 32(10): 819-22. PMID: 26253148

 

Mídias sociais têm sido vistas por alguns como uma ameaça à educação médica tradicional. No entanto, os princípios educacionais das mídias sociais, algumas vezes inovadores na forma de entrega, são frequentemente não diferentes de técnicas e métodos consolidados. Mensagem final: mídias sociais são um meio e não um currículo. São uma forma de disseminar o trabalho acadêmico numa escala mundial.

Recomendado por: Salim Rezaie


 

RR-ICON-Eureka Atir S et al. When Knowledge Knows No Bounds: Self-Perceived Expertise Predicts Claims of Impossible Knowledge. Psychol Sci 2015; 26(8): 1295-303. PMID: 26174782

 

Esse artigo não tem quase nada a ver com a prática clínica em emergência ou em intensivismo, porém nos dá uma luz sobre como nós pensamos. O último autor desse paper é o psicologista David Dunning (conhecido pelo Efeito Dunning-Krueger, vencedor do prêmio Ig Nobel). Esse artigo mostra não só que nós superestimamos nossas habilidades, mas que quando temos a sensação de expertise numa área nós tendemos a superestimar nossas habilidades ainda mais. O que fazer com essa informação? Questionar continuamente nossas habilidades e nossa confiança para não ser sugado para esta armadilha. Vale a leitura para aqueles interessados em ciências sociais e em como nós pensamos…

Recomendado por: Anand Swaminathan


 

Medicina Pré-Hospitalar

RR-ICON-Eureka Ringh M et al. Mobile-Phone Dispatch of Laypersons for CPR in Out-of-Hospital Cardiac Arrest. NEJM 2015; 372: 2316-25. PMID: 26061836

 

Smartphones estão em todas as partes, então por que não usá-los para contatar pessoas treinadas em RCP para fazer o primeiro atendimento pré-hospitalar de paradas cardiorrespiratórias? Esse estudo sueco analisou o uso dessa tecnologia simples e demonstrou que houve um aumento significativo no número de pessoas que recebeu RCP no ambiente pré-hospitalar de 48% para 62% após a adoção da medida. Esse é exatamente o tipo de intervenção em que deveríamos estar focados para o atendimento pré-hospitalar de PCR.

Recomendado por: Anand Swaminathan


 

Legendas:

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“Hall da Fama”

Você precisa ler!

RR-ICON-Game-Changer

“Mudando o Jogo”

Pode mudar a sua prática clínica

RR-ICON-Hot-Stuff

“É Quente!”

Todos vão falar sobre isso

RR-ICON-Landmark

“Marco Científico”

Publicação que fez a diferença

RR-ICON-mona-lisa

“Mona Lisa”

Exposição brilhante

RR-ICON-Eureka

“Eureka”

Ideia ou conceito revolucionário

RR-ICON-Boffintastic

“Cienciacional”

Pesquisa de alta qualidade

RR-ICON-Trash

“Lixo”

Você deve ler, porque está tão errado

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“WTF”

Ãnh?! Oi?!

Post Original: Life in the Fast Lane

Traduzido por: Henrique Puls