Definição: Fratura da porção média do fêmur, a qual se estende do trocanter menor até os côndilos femorais.
Mecanismo:
- População jovem: traumas de alta energia, como acidentes de trânsito, queda de altura e ferimentos por arma de fogo.
- População idosa: traumas de baixa energia, como queda da própria altura (Egol 2014).
Epidemiologia:
- Incidência de 37,1 por 100 mil pessoas-ano nos Estados Unidos (Arneson 1988).
- Ocorre mais comumente em homens jovens, entre 15 e 24 anos, e em mulheres maiores de 75 anos (Egol 2014).
Anatomia:
- Músculos separados em três compartimentos.
- Compartimento Anterior (sartório, pectíneo, quadríceps femoral e iliopsoas), responsável pela extensão do joelho;
- Compartimento Medial (grácil e adutor longo, adutor curto e adutor magno)
- Compartimento Posterior (bíceps femoral, semitendíneo e semimembranáceo), responsável pela flexão do joelho;
- A tração desses músculos em uma fratura de fêmur pode acarretar em angulação e deslocamento.
- Suprimento Neurovascular:
- Suprimento abundante primariamente da artéria femoral profunda
- Lesão do nervo ciático e femoral é raro devido a proteção deste pelos músculos adjacentes
Exame Físico:
- Execute uma avaliação completa do paciente traumatizado, pois há uma grande associação com outras lesões ameaçadoras da vida;
- Inspeção visual:
- A apresentação não é nada sutil, geralmente você verá uma deformidade importante
- Procure por encurtamento da extremidade do membro
- Palpação:
- Sensibilidade ao toque
- Avalie o tamanho do compartimento para possibilidade de hemorragia
- É uma localização comum de sangramento quando se desenvolve um choque hemorrágico no trauma
- Perda sanguínea é em média 1,2L, podendo chegar a até 3L (Lieurance 1992)
- Avalie a perna em busca de sinais de síndrome compartimental
- Realize um exame neurovascular completo
- Lesões associadas:
- Fratura ou luxação de pelve/quadril
- Fratura de colo ocorre em 1% a 9% dos pacientes com fratura de diáfise (Peljovich 1998)
- Lesão ligamentar ou meniscal está presente em 50% das fraturas de fêmur (Egol 2014).
Exames de Imagem Diagnósticos
- Incidências necessárias: Pelve AP, Quadril AP, fêmur e joelho
- Tomografia pode ser indicada para descartar outras fraturas associadas, mais especificamente a fratura de colo.
Fratura segmentar de diáfise (cortesia do Dr Benoudina Samir, Radiopaedia.org. do caso rID: 48182)
Sistemas de Classificação de Fraturas:
Classificação de Winquist e Hansen
Sistema de Classificação OTA
Manejo na Emergência:
- Avaliação da Ortopedia
- Controle da dor:
- Opióides endovenosos são comumente usados pois o paciente geralmente tem dor severa
- Bloqueio de nervo femoral (link)
- Muito efetivo para manejo de dor em fraturas de colo de fêmur
- Menor perfil de efeitos adversos do que analgesia sistêmica
- Sempre calcule a dose tóxica de anestésico local em cada caso, para evitar toxicidade sistêmica por anestésico local
- Fraturas fechadas devem ser posicionadas com uma tala longa de perna e podem também ser posicionadas em tração
- Fraturas expostas devem receber antibióticos e devem prosseguir para lavagem e desbridamento em em sala de cirurgia
- Tração cutânea (Hare ou Thomas)
Prognóstico:
- Fixação de haste intramedular por via anterógrada é associada com uma taxa de 99% de consolidação e uma taxa <1% de infecção (Winquest 1984)
- Com fisioterapia, pacientes jovens podem retornar a funcionalidade basal em aproximadamente 6 meses (Paterno 2009)
- Pacientes mais velhos podem demorar até de 1 a 2 anos para retornar a sua funcionalidade basal (Röder 2003).
- Complicações incluem infecção, má consolidação ou não consolidação.
- Complicações mais raras incluem lesão neurovascular, hemorragia, síndrome compartimental, embolia gordurosa e SDRA (Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo)
Pontos Chave:
- Fraturas de diáfise de fêmur são frequentemente associadas com traumas multissistêmicos
- Não se distraia com a lesão óbvia. Sempre lembre de executar uma avaliação completa do paciente traumatizado
- Bloqueios de nervo femoral são efetivos para controle da dor e têm menos efeitos colaterais do que analgesia sistêmica
- Posicionar o paciente em uma tala com tração até que seus colegas da ortopedia cheguem pode melhorar o alinhamento e o fluxo sanguíneo
Leia mais:
Orthobullets Femoral Shaft Fracture
Rosen’s Emergency Medicine Concepts and Clinical Practice (link)
Tintinalli’s Emergency Medicine (link)
Referências:
Arneson TJ et al Epidemiology of diaphyseal and distal femoral fractures in Rochester, Minnesota, 1965-1984. Clin Orthop Relat Res 1988; 234: 188-94.PMID 3409576
Egol, KA, Koval, KJ, Zuckerman, JD. Handbook of Fractures. 4th ed. Philadelphia: Wolters Kluwer/Lippincott Williams & Wilkins Health; 2014. link
Lieurance R et al Blood loss and transfusion in patients with isolated femur fractures. J Orthop Trauma. 1992;6(2):175. PMID:1602337
Nork SM. Fractures of the shaft of the femur. In: Rockwood and Green’s Fractures in Adults, 7th ed, Bucholz RW, Heckman JD, Court-Brown CM, et al (Eds), Lippincott, Williams & Wilkins, Philadelphia 2010. p.1656 link
Paterno MV et al Is there a standard rehabilitation protocol after femoral intramedullary nailing? J Orthop Trauma. 2009;23(5 Suppl):S39. PMID:19390375
Peljovich AE et al. Ipsilateral femoral neck and shaft fractures. J Am Acad Orthop Surg. 1998; 6(2):106-113. PMID:9682073
Röder F et al Proximal femur fracture in older patients–rehabilitation and clinical outcome. Age Ageing. 2003;32(1):74. PMID 12540352
Winquist RA et al Closed intramedullary nailing of femoral fractures. A report of five hundred and twenty cases. J Bone Joint Surg Am. 1984;66:529–539. PMID:6707031
Original: Femoral Shaft Fractures by CORE EM
Traduzido por: Arthur Martins
Revisado por: Mateus Araújo