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Por: Linda Katirji, Farhad Aziz, Rob Rogers.
Tradução: Rafael Maia de Almeida (LEM.DF)
Revisão: Rebeca Bárbara da Silva Rios

Introdução

A cadeira de medicina de emergência (ME), geralmente, ocorre durante o quarto ano da faculdade de medicina. No entanto, alguns programas podem ter uma opção eletiva durante o último ano. Se você pretende ou não se especializar em medicina de emergência, o rodízio é um aspecto importante da sua formação médica. A sala de emergência é um ambiente único de aprendizagem que é diferente de qualquer outra configuração no hospital. Ela fornece oportunidades clínicas que estão amplamente indisponíveis em outros estágios e rodízios. Durante os estágios, muitas especialidades também irão gastar uma quantidade significativa de tempo no Departamento de Emergência (DE). Isso pode estar dentro de um rodízio em ME estruturado, ou ao admitir ou consultar pacientes para um determinado serviço médico ou cirúrgico. Portanto, é importante ganhar uma compreensão do fluxo do DE, bem como o processo de pensamento específico que deve ser empregado com pacientes do departamento de emergência. Este capítulo discutirá alguns dos aspectos únicos do departamento de emergência, algumas das habilidades a adquirir durante o estágio em ME, bem como a melhor forma de obter sucesso e tirar as máximo partido do seu rodízio.

Aspectos únicos do ambiente do departamento de emergência

O alto volume e a gravidade dos pacientes no pronto socorro criam uma pressão de tempo e força nos médicos, obrigando-os a empregar um estilo de prática diferente de outros contextos. Um fluxo constante de pacientes, alguns dos quais podem exigir medidas imediatas de resgate, significa que muitas vezes há pouco ou nenhum tempo para revisar o histórico ou qualquer registro médico antes de ver o paciente. Na maioria das vezes, você precisará avaliar um paciente sem saber nada sobre seu histórico. Portanto, é importante entender quais são as informações mais importantes a serem coletadas para cada um. Isso pode ser difícil, pois a maioria dos pacientes chega com queixas indiferenciadas, como por exemplo: “dor no peito” e “dor abdominal”, onde a etiologia pode variar de completamente benigna a imediatamente fatal, ou “fraqueza”, onde o diagnóstico diferencial inclui essencialmente todo o espectro da patologia médica.

Este paciente indiferenciado é o padrão no DE. No entanto, eles podem se apresentar em qualquer ambiente médico. É importante aprender o processo de pensamento e desenvolver uma estratégia para raciocinar sobre esses tipos de pacientes, independentemente de você planejar ou não uma carreira em ME. Os médicos de emergência devem empregar e dominar um estilo de prática completamente diferente do da maioria dos médicos. Os médicos de emergência devem sempre pensar em cenários piores para cada queixa principal e devem estar informados e confortáveis ​​para associar a manobra e o tratamento. Um bom exemplo disso é a dor no peito. Mesmo que muitas vezes a queixa de “dor no peito” seja causada por uma etiologia não agudamente ameaçadora de vida, médicos de emergência devem pensar imediatamente em seis causas fatais de dor no peito: síndromes coronárias agudas, dissecção da aorta, embolia pulmonar, tamponamento cardíaco, pneumotórax, ruptura esofágica. Além disso, os médicos de emergência têm que usar um raciocínio diferente para determinar a disposição ou o resultado do paciente. O médico de emergência deseja, essencialmente, evitar a alta de um paciente que não deveria ir para casa, onde, como consultor ou assumindo o serviço, não quer admitir um paciente que não deveria ser internado. Isso pode parecer trivial, no entanto, essa diferença no processo de pensamento pode ocasionalmente criar tensão entre o DE e a admissão de serviços.

Ensinar no DE é diferente da maioria das outras configurações no hospital. Normalmente não há tempo reservado para reuniões formais, então a maioria dos ensinamentos é feita à beira do leito ou no momento em que o aluno ou residente apresenta o paciente. Muitas vezes, os médicos professores selecionam “pontos de ensino” para cada paciente. Cada médico terá um estilo de ensino diferente e, em geral, seu aprendizado será mais ativo do que passivo. Por fim, o DE é um ótimo lugar para estudantes de medicina e residentes do primeiro ano aprenderem a assumir responsabilidade por seus pacientes. Os estudantes muitas vezes têm um nível de autonomia maior em comparação com outros rodízios. Muitas vezes, o aluno será a primeira pessoa a avaliar o paciente, que é um papel muito importante. É importante aprender a distinguir se um paciente está “doente” ou “não está doente” e se, à primeira vista, você acha que esse paciente pode ir para casa ou precisa ser admitido, independentemente do diagnóstico.

Habilidades únicas para se levar do estágio em ME

Medicina de emergência é um rodízio maravilhoso que expõe você a pacientes de diferentes populações, mas também uma variedade de patologias. Esta coleção diversificada de pacientes e patologias oferece aos residentes de medicina de emergência e aos estudantes uma oportunidade única de ganhar o domínio de diferentes habilidades. Essas habilidades vão desde o conhecimento de como abordar pacientes em estado crítico, ganhar habilidades procedimentais, compreender radiografias e tomografias computadorizadas, realizar ultrassonografias e muito mais.

Muitas vezes você pode estar ocupado fazendo tarefas diferentes quando tem de largar tudo e gerenciar um paciente grave. Este é um dos aspectos mais empolgantes da medicina de emergência. Esses pacientes oferecem aos alunos uma grande oportunidade de aprender os princípios da ressuscitação, como o manejo das vias aéreas e o colapso circulatório, identificar as causas da descompensação do paciente e instituir o tratamento adequado. Quer você busque uma carreira em medicina de emergência ou opte por uma especialidade diferente, os pacientes em estado crítico sempre farão parte de sua realidade de pacientes. Entender como abordar e estabilizar esses pacientes é uma parte importante na vida de um médico.

Embora aprender a arte da ressuscitação seja uma parte vital do rodízio em ME, esta também é uma oportunidade de ganhar competência em uma variedade de procedimentos. Se você pretende seguir uma carreira em pediatria, medicina interna, ortopedia, cirurgia geral ou qualquer outra especialidade, seu rodízio através do pronto socorro irá expô-lo a uma ampla gama de habilidades procedimentais, desde a intubação e colocação de acessos centrais e arteriais críticos a realizar punções lombares e reduções de fraturas em crianças. A autonomia é incentivada com procedimentos, e você terá a oportunidade de melhorar suas habilidades e técnicas sob a orientação dos residentes e estafes. A ME é uma especialidade muito prática. Você deve tirar proveito do estudo médico e da didática dos residentes, que podem incluir laboratórios de procedimentos em manequins ou cadáveres e simulação. Isso lhe dará a oportunidade de praticar e fornecer melhor atendimento ao paciente durante o seu rodízio.

Além de familiarizar-se com uma grande variedade de procedimentos, o seu estágio em ME também permitirá você se familiarizar com uma variedade de modalidades de imagens utilizadas no DE. Há uma quantidade enorme de patologia encontrada no DE, que se presta a uma gama de imagens. Seja aprendendo a realizar ultrassonografia à beira do leito em um paciente com colapso ou simplesmente aprendendo como abordar uma radiografia de tórax ou uma tomografia computadorizada do abdômen, seu rodízio em ME lhe dará muitas oportunidades de se tornar proficiente em uma habilidade que você precisará mais tarde em sua carreira.

Embora seu estágio em ME te forneça exposição a uma quantidade enorme de habilidades que irão ajudá-lo a se tornar um médico experiente, nenhuma habilidade é mais importante do que a compaixão e humildade. Todos os dias você encontrará pacientes no pior dia de sua vida. Perceber isso e confortar eles e suas famílias é fundamental para o seu sucesso como médico. Você também encontrará uma variedade de médicos reguladores. Alguns são bons e profissionais, enquanto outros não são. Ter uma compreensão geral de que todos eles têm conhecimento que você pode absorver irá prepará-lo para uma carreira de sucesso na medicina.

Como ser bem sucedido em seu estágio em ME

Muitas das mesmas qualidades que permitem que você tenha sucesso em outros rodízios o ajudarão a ter sucesso no DE. É importante ser trabalhador, proativo e estudioso. Fique de olho em seus pacientes, reavalie-os com frequência e certifique-se de acompanhar quaisquer resultados, incluindo laboratoriais, exames de imagem e quaisquer recomendações de reguladores. Os aspectos únicos do estágio no DE e ME discutidos anteriormente significam que os primeiros turnos podem ser estressantes e parecerem agitados. Para cada estudante e residente que circula pelo DE, há uma curva de aprendizado significativa – com cada turno que você passa no DE, as coisas parecerão cada vez menos assustadoras. É importante durante esse período que você conheça suas limitações: saber com o que está confortável ou não. Muitas vezes você será a primeira pessoa a avaliar o paciente. Você deve ter um limiar baixo para alertar um residente de nível superior a comparecer se o paciente parecer estar doente, ou se apresentar uma queixa com a qual você não se sente à vontade. Ao mesmo tempo, você deve estar confiante no que faz e na oportunidade de aprender a diagnosticar, tratar e administrar seu paciente.

A melhor maneira de criar confiança durante o rodízio em ME é ganhar experiência e conhecimento. Tente ser proativo na aprendizagem de novos procedimentos ou tratamentos com assistência do estafe ou residente. Além disso, é muito importante acompanhar a leitura e o estudo. No Pronto-Socorro, você pode se deparar com patologias médicas sobre a qual você apenas leu sobre e espera-se que você saiba como diagnosticar e tratar adequadamente essas doenças.

Uma boa comunicação é essencial para um médico em qualquer especialidade e, no DE, é uma habilidade imperativa. Você estará trabalhando com uma grande equipe de enfermeiros, técnicos, médicos reguladores, assistentes sociais e paramédicos, só para citar alguns. Quando você for abordar um paciente, é uma boa ideia conversar com a enfermeira antes de entrar na sala para entender melhor a queixa do paciente, bem como reunir qualquer informação que tenha sido retransmitida pelo Serviço Médico de Emergência. Ao comunicar o plano de cuidados ao enfermeiro e ao pessoal de apoio, você não apenas melhorará o atendimento ao paciente e reduzirá erros, mas também criará relacionamentos que enriquecerão sua experiência no departamento de emergência. Em situações agudas, como paciente descompensando rapidamente, é essencial uma boa comunicação com toda a equipe. Como estudante de medicina ou residente rotativo, este é um ótimo momento para praticar e melhorar suas habilidades de comunicação nessas situações estressantes, sob a direção de residentes e staffs.

O seu rodízio em ME será uma experiência única e excitante durante a faculdade de medicina e a residência. Se você planeja se especializar em ME ou não, aprenderá muitas habilidades procedimentais, aprimorará seu próprio método de diagnosticar e tratar pacientes e será capaz de praticar um método diferente de tomada de decisão médica.

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