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International Emergency Medicine Education Project

Seção 4
Coleta de dados
Por: Chew Keng Sheng
Tradução: Rafael Maia de Almeida
Revisão por: Rebeca Bárbara da Silva Rios

INTRODUÇÃO
Embora o estudante de medicina sempre tenha sido ensinado a fazer
uma história abrangente e um exame físico completo da cabeça aos pés, ele
pode achar essa abordagem metódica um desafio no departamento de
emergência (DE). Muitos dos pacientes que chegam ao DE são
frequentemente pacientes de primeira viagem, não familiarizados com
procedimentos, e têm diversas queixas que vão desde uma tentativa
manipulativa de obter um atestado de licença médica até uma situação
complexa e ameaçadora à vida. Este desafio é ainda agravado pelo fato de que
muitos pacientes no DE estão sofrendo de doenças agudas ou lesões que
comprometem sua capacidade cognitiva de compreender e responder.

A ABORDAGEM DA MEDICINA DE EMERGÊNCIA
Embora alguns estudos tenham mostrado que a anamnese por si só
pode determinar o diagnóstico em até 75-80% dos casos (Hampton, 1975;
Peterson, 1992), obter uma história tão abrangente no DE pode ser uma tarefa
muito difícil, especialmente se o paciente for extremamente doente. Em tal
situação, a abordagem clínica linear – história em primeiro lugar, seguida de
exame físico e investigação – pode não ser viável. Em vez disso, a coleta de
dados do histórico, do exame físico e da investigação do paciente pode
precisar ser realizada simultaneamente. O elemento mais importante na
abordagem do paciente em medicina de emergência é estabelecer a impressão
inicial do paciente. Isso se baseia na coleta de dados de várias fontes,
incluindo o histórico, exames físicos e investigações à beira do leito. É de
particular importância responder à questão vital: há alguma ameaça de vida ou
de membro neste paciente? E uma vez que essas ameaças são identificadas,
medidas imediatas devem ser iniciadas para reverter o quadro antes de
prosseguir no processo de coleta de dados.

Atividade 1
Assista a um podcast de vídeo sobre a Abordagem Geral do Paciente no
Departamento de Emergência.

Discussão
• Quais são os pontos fortes e as limitações que você vê neste modelo
de abordagem de medicina de emergência, em que todos os processos de
coleta de dados (anamnese, exame físico e investigação) podem ocorrer
simultaneamente em comparação com a abordagem clínica linear tradicional?
Por mais difícil que possa parecer, o médico que trabalha no PS ainda
deve estabelecer um bom relacionamento de comunicação com o paciente,
tanto quanto possível. Para conseguir isso, deve-se utilizar perguntas abertas.

Faça as perguntas: “O quê?” “Por que?” “Quem?” “Quando?” “Onde?” E
“Como?”
Preste atenção especial a qualquer sintoma desenvolvido de forma
aguda. O início agudo de uma dor de cabeça, por exemplo, sugere uma origem
vascular. Se um paciente teve uma condição crônica, persistente ou recorrente,
a pergunta importante a ser feita é: “Existe alguma diferença entre o sintoma
anterior e o sintoma agora?” Um paciente com enxaqueca, por exemplo, pode
apresentar uma súbita “dor de cabeça pior de todas” sugestiva de hemorragia
subaracnóidea em vez de uma enxaqueca crônica. Se não solicitarmos as
mudanças no padrão de sintomas, o paciente pode não oferecer essa
informação.

O quê
Qual é a mensagem que o paciente está tentando transmitir para mim
através das palavras que ele usa e NÃO usa? Observe os sinais de
comunicação não verbal que ele está tentando transmitir, por exemplo, uma
sensação de nervosismo, inquietação, etc. Muitas vezes, os pacientes são
propensos a ocultar informações sensíveis, como história sexual e queixas
psiquiátricas / psicológicas que só podem ser detectadas por pistas não
verbais.

Por que

Exemplos: Por que o paciente escolhe vir no meio da noite? Por que o
paciente escolhe essa forma de tratamento e não outra? Por que o paciente
acha que a doença dele não é grave?

Quem
Exemplos: Quem está cuidando do paciente em casa? A quem o
paciente pede orientação quando está doente? Quem mais sabe sobre a
doença do paciente? Quem são as testemunhas oculares do acidente ou do
trauma em que o paciente esteve envolvido? Quem é o parente mais próximo
do paciente? Quem pode ser um tomador de decisões substituto legítimo para
o paciente agudamente doente?

Quando
Exemplos: quando a dor ocorre? Quando o paciente apresentou edema,
a cianose, etc.? Um súbito aparecimento de sintomas é um sinal de alerta e
pode sugerir um evento vascular.

Onde
Exemplos: onde aconteceu o acidente? De onde vem o paciente? A que
distância do hospital?

Como
Exemplos: como o acidente aconteceu? O paciente perdeu a
consciência antes ou depois do evento?

PISTAS NÃO-VERBAIS
Esteja atento aos sinais não-verbais do paciente, não apenas ao
conteúdo verbal de sua visita. Albert Mehrabian, professor de psicologia,
desenvolveu a regra clássica de 7-38-55. Esta regra consiste no seguinte:
enquanto 7% do que o paciente comunica vem das palavras usadas (o
conteúdo), 38% da mensagem vem da maneira como é dita (o tom), mas 55%
da mensagem vem a partir das pistas não verbais, incluindo, mas não
limitando, à expressão facial, contato visual, etc.

O paciente parece com medo e defensivo? Agressivo? Irritado?
Desinteressado? Clique aqui para assistir a um vídeo sobre o estudo de
Mehrabian.
Isso ocorre especialmente quando o paciente está tentando se
comunicar com informações confidenciais, como sua história sexual ou
sintomas psicológicos. Infelizmente, verificou-se que apenas entre 20 a 40%
dos médicos responderam positivamente às pistas verbais e não verbais dos
pacientes (Beckman, 1984).
Permita que o paciente descreva suas preocupações usando suas
próprias palavras sem interrupções. Descobriu-se que um médico interrompe
seus pacientes logo aos 18 segundos da conversa, embora sejam necessários
pelo menos 150 segundos para os pacientes contarem suas histórias
(Beckman, 1984).

Atividade 2
(O texto original propunha assistir a este pequeno vídeo, no entanto o
vídeo está indisponível no youtube): Apresentando seu paciente ao seu
atendimento em medicina de emergência por Dr. David Pierce
Para refletir: No vídeo, o Dr. Pierce adverte seus residentes a não
perderem nada importante pensando em outros 5 diagnósticos diferenciais. Por
que é especialmente importante adotar uma abordagem ampla na formulação
de diagnósticos no setor de emergência?

Atividade 3

Assista a este vídeo: Abordagem ao paciente no DE.
Discuta / reflita sobre as seguintes questões:
1. Em sua palestra, o palestrante afirmou que “a maioria dos pacientes
não vão ao DE casualmente”. Como o fato de saber que a maioria dos
pacientes não vão ao DE casualmente afeta a maneira como você vê seus
pacientes, especialmente no meio de a noite?
2. A segunda coisa que o palestrante disse é que o medo e a
ansiedade são emoções rotineiras experimentadas pelos pacientes no
DE. Você concorda com esta afirmação? Se sim, por que você acha que é
assim e como isso afetaria seu processo de coleta de dados? Quando estiver
no DE, observe se é verdade que medo e ansiedade são emoções rotineiras
vivenciadas pelos pacientes que você observa. Você acha que os médicos
fizeram o suficiente para aliviar essas emoções de medo e ansiedade em seus
encontros clínicos?
3. O palestrante também falou sobre o longo tempo de espera no DE.
Como o longo tempo de espera afeta seu processo de coleta de dados?

Referências e Leitura Adicional: https://iem-student.org/data-gathering/

Sugestão de leitura adicional pela revisora:
https://emergenciarules.wpcomstaging.com/2019/09/29/como-apresentar-
um-caso-na-emergencia/